"Talvez
eu ande mais velha e mais chata. Não tolero mais coisas que tolerava
antes. Hoje em dia conforto para mim é fundamental. Isso vale para tudo.
Tenho que dormir em cama boa. E olha que já dormi em colchão de ar.
Tenho que ter um banho bom. E olha que já tomei muito banho frio nessa
vida. Tenho que beber vinho de qualidade. E olha que já bebi vinho
barato no meio da rua. Tenho que sentir meus pés confortáveis. E olha
que já usei muito scarpin de bico fino e salto 10cm. Hoje gosto de me
sentir livre. De estar bem. E de não me sentir apertada dentro de mim.
Não
condeno quem gosta de acampar, gastar rios de dinheiro em roupas
carésimas, tomar bebida de qualidade duvidosa. Cada um faz suas próprias
escolhas e vive como quer. Só penso o seguinte: me deixa quietinha com
minhas vontades. Se não temos o mesmo gosto podemos ser amigos. Só
entenda que dessa linha para cá tem a minha vida e daquela linha para lá
tem a sua. Acho que assim todo mundo fica bem. Inclusive, contribuímos
para um futuro melhor. Respeito é palavra fundamental no meu dicionário
(e no seu?).
Acho
que estou mais velha e mais chata, sim. Vejo pelas marquinhas que se
mudaram para a minha testa. Pelas coisas que não mais suporto. Não gosto
de lugar barulhento e apertado. Não gosto de assistir um show onde
desconhecidos esbarram em mim. Não gosto que gente estranha me cutuque.
Não gosto de rir feito uma hiena quando o papo é sério. Tem gente que
não cresceu. Sempre achei que tem a hora de brincar e a hora de falar
que nem adulto.
Vejo
que muitos levam a vida na gandaia. E tudo bem. Se você gosta de farra
day after day, night after night tudo bem. Só não me incomode por gostar
de ficar com minha casa, meus livros, meus vinhos, minhas letras. Não
sou da noite: prefiro o dia. Não sou da pista de dança: prefiro minha
cama e meus travesseiros fofos. Tem gente que ri de tudo, até de
desgraça. Eu não consigo. Tenho meu lado criançola. Brinco, faço birra,
faço manha. E tenho meu lado adulto, responsável, que encara quando tem
que encarar, que não se esconde quando o bicho pega.
Passei
daquela fase da fofoquinha, em que o legal era se reunir em um boteco
de quinta categoria para falar da paixonite da vez (e a gente bebe e
chora e ri e bebe mais até fechar o boteco). E da roupa da Mariana. E da
cor da unha da Claudiana. E da voz esganiçada da Franciscana. Acho que
toda mulher passa por isso um dia. Um dia, eu disse. Não a vida inteira.
Eu fazia isso quando tinha 18 anos, era uma retardada, não sabia
direito o que era amizade e o que queria pra mim. Hoje eu sei. Hoje acho
ridículo grupinho que se junta para falar de A, B ou C. Quem fala de
todo mundo um dia fala de você. Pode apostar, é assim mesmo que
funciona. E tem gente que faz disso o seu esporte. Não gosto, mas fico
na minha.
Minha
mãe sempre mandou tomar cuidado com as pessoas que se fazem de
boazinhas. Essas são as piores. Quem é filho da mãe escancarado nem
oferece tanto perigo, afinal, a gente sabe com quem está lidando. O
problema são aquelas pessoas que se fazem de legais e no fundo não valem
dez centavos. Não gosto de gente que pisa em cima dos outros ou tenta
se dar bem aprontando todas. Por isso, me recolho. Sou tímida. Um montão
de gente ri quando falo isso, mas sou tí-mi-da. Só quem me conhece a
fundo sabe. É que sou o tipo de gente que todo mundo pensa que conhece.
Mas se enganam feio. Pouquíssima gente me desvenda. Mostro só o que
quero. Não por maldade, mas por proteção. A gente tem que aprender a se
proteger. Das escolhas dos outros. E até mesmo das nossas próprias
escolhas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário