sábado, 12 de novembro de 2011

A arte de dizer coisas sem revelar o essencial

Ela sentia tanta culpa por não se sentir culpada de pensar daquela forma. Logo ela, tão ética, sensata, racional. Estava cansada de ponderação, de se enganar falando em proteger as pessoas quando na verdade estava se auto protegendo de discussões desnecessárias e que obviamente não levariam a lugar algum. Queria largar o emprego, mudar para o Alasca, ficar amiga dos pinguins. Será que exista pinguins no Alasca? Queria comprar aquele perfume carérrimo, estudar alemão, ficar uma semana dentro de um quarto com o homem da sua vida, invadir a festa alheia, invadir a privacidade alheia, invadir a mente alheia.

Precisava sair dos seus limites, dos seus muros. Queria se tornar uma sem teto, sem tantos escrúpulos, sem noção. O mundo era tão grande e seu quintal tão pequeno, era um parque de diversões perto de um jogo de dominó - detestava dominó. Era preciso expandir, alargar, ventilar, desbravar, desconsertar, despentear. Quanto tempo tudo certo, quanto tempo sem deslizes descobertos, quanto tempo se contendo, se escondendo, se medindo, avaliando, minimizando. A vida era curta demais para arrependimentos tardios. Precisava recuperar o brilho. Descobrir o segredo do sorriso de Monalisa. A arte de dizer coisas sem revelar o essencial. Precisava ser salva.

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